Em tempos de vampiros
que brilham, lobisomens depilados e zumbis em crise existencial (respeito o
livre arbítrio do escritor, sem dúvida, mas isso não torna a ficção feita por
ele mais verídica) surge, em meio ao mar de distorções fictícias e suas cópias:
Cidade dos Ossos. Lançada em 2004 nos EUA, com tradução vinda ao Brasil somente
em 2010, o primeiro livro da saga instrumentos mortais nada mais é para mim que
o salvador atual do seu gênero literário. Cassandra Clare cria um universo com
astúcia de mestre: uma miscigenação de todos os mitos e lendas que abrange a
superstição ocidental, que simultaneamente não os modifica, mantendo demônios,
lobisomens, vampiros, nephilins e afins com as características originais. Uma
obviedade autêntica no contemporâneo das histórias sobrenaturais.
Vejamos a sinopse e abaixo eu irei comentar
as partes que mais admirei:
Capa do livro 1 - Série: Instrumentos Mortais |
“Clary Fray, 15 anos, decide passar a
noite em uma boate da moda em Nova York, e o maior de seus problemas
provavelmente seria lidar com o truculento segurança da porta, certo? Errado.
Clary testemunha um crime, e não um crime qualquer: um assassinato cometido por
três adolescentes cobertos por enigmáticas tatuagens, brandindo armas
esquisitas. Para completar, o corpo da vítima desaparece no ar. Clary quer
ligar para a polícia; quer gritar; quer chamar seu amigo, Simon, que ficou na
boate enquanto ela teve a infeliz ideia de perseguir o menino bonitinho de
cabelo azul...Mas como explicar a eles que ninguém mais na rua enxerga os
assassinos, apenas ela? Como provar que houve um crime se não há rastro algum
do sangue do garoto – aliás era mesmo um menino?
Mas ela nem tem tempo de tomar uma decisão;
logo os assassinos se apresentam para a estranha mundana que não deveria
vê-los, mas vê. Jace, Alec e Isabelle são Caçadores de Sombras, guerreiros cuja
missão é proteger o mundo de demônios e outras criaturas. Vampiros que saem da
linha, lobisomens descontrolados, monstros cheios de veneno? É por aí mesmo. E
depois desse primeiro contato com o Mundo de Sombras, e com Jace – um Caçador
que tem a aparência de um anjo, mas a língua tão afiada quanto Lúcifer – a vida
de Clary nunca mais será a mesma. Mesmo.”
Dispondo da minha sinceridade, quando li esta sinopse pela primeira vez, ela não me motivou a ler. Pelo seguinte fato: sendo eu veterana em desfrutar leituras nas categorias juvenil e jovem, ela me pareceu uma sinopse fraca, com linguagem simples e voltada a adolescentes que não gostam de ler com frequência e profundidade, mas que se interessam por modismos literários. Pois bem, a palavra que mais descreve o que eu senti enquanto folheava página por página, imersa no mundo criado por Cassandra, é surpresa. O livro é surpreendente, e não vale um décimo da paupérrima sinopse que infelizmente o apresenta. Enquanto no início você acredita que o Mundo de Sombras se resume a um “preto e branco”, com os bondosos entre os Caçadores, e os demônios e seus mestiços do submundo maldosos, a coisa não é bem por ai. O exemplo mais verdadeiro disso é Valentim, um Caçador de Sombras que ficou conhecido por criar entre a Clave (irmandade do Mundo de Sombras) o grupo radical chamado Ciclo, que lembra o fascismo e nazismo da 2ª Guerra Mundial, em que eles seguem um discurso cruel de manter somente na Terra mundanos e nephilins (a definição biológica dos Caçadores) por serem os “puros”, enquanto que os habitantes do submundo, sendo mestiços de demônios, tinham o dever de desaparecer sem deixar rastros. A cada página, mais você reconhece que assim como há compaixão no submundo, há monstruosidade entre os nephilins. E ainda perdoa a decisão da mãe de Clary, Jocelyn, de tê-la mantido afastada: não dos demônios, nem dos vampiros, fadas ou lobisomens; mas de sua própria espécie de Caçadores de Sombras. Nem Clary; nem Jace; nem ninguém pode prever o desfecho impressionante no final do livro, que é óbvio, não irei contar em uma resenha já que seria uma revelação ordinária da minha parte.
Sombrio, engraçado e sexy, o volume um do
mais famoso livro de Cassandra Clare cria um mundo oculto a nossos olhos, com
lendas criadas pela autora misturadas a tantos outros mitos antigos e
atemporais, religiões se mesclam com sintonia perfeita, bondade e maldade
tornam-se palavras subjetivas, englobado em um misticismo fascinante. Não temam
mais, caros leitores, as lendas sombrias não estão mais perdidas, Cassandra as
encontrou e reviveu com nova face, em um livro só dela.
Resenha: Roberta Shinkai (mais conhecida como Batman)
Nota: Hey people! Espero que tenham gostado da resenha ;)
Gostou? Não gostou? Comenta aí embaixo pra gente ficar sabendo, afinal críticas construtivas sempre serão bem vindas :* Um Beijo!